Minha Jornada com a Ayahuasca - Reflexões de um Xamã
- William Mesquita
- 31 de jan.
- 3 min de leitura
Enquanto sento em meu lugar no círculo, cercado pelos irmãos e irmãs que confiaram em mim para guiá-los nesta jornada sagrada, sinto o peso e a honra desta responsabilidade. O fogo crepita ao meu lado, suas chamas dançando ao ritmo do vento, enquanto o aroma do tabaco e das ervas sagradas preenche o ar. Seguro meu tambor, sentindo sua pele vibrar sob minhas mãos, como se ele já estivesse ansioso para ecoar os batimentos do coração da Terra.
Ao consagrar (ingerir) a Ayahuasca, sinto o mundo material se dissolver lentamente, como areia escapando entre os dedos. A medicina começando a fluir em mim, e vejo cores e formas que não pertencem a este plano. Espirais de luz se entrelaçam, e sinto a presença de espíritos ancestrais ao meu redor, sussurrando sabedoria em línguas antigas. Eles me lembram de que sou apenas um canal, um condutor de energias maiores, e que meu papel é servir, não controlar.
As flautas dão origem ao som no ritual, suas notas fluidas e harmoniosas carregando as histórias dos antigos através do sopro de vida que sai dos meus pulmões, e gerando as notas e melodias do momento, transbordando a energia e o ritmo da minha própria conexão espiritual a todos os participantes da roda na cerimônia. Os rezos que entoamos não são apenas palavras, mas sim sementes de intenção lançadas ao vento, buscando cura, clareza e transformação para todos os presentes.
Enquanto começo a tocar o tambor, sinto sua pulsação se fundir com o ritmo do universo. Cada batida é como um chamado, uma invocação que abre portais para dimensões além do visível.
Olho ao redor e vejo os rostos dos participantes, cada um mergulhado em sua própria jornada. Alguns estão calmos, como lagos serenos, enquanto outros se contorcem, choram e enfrentam suas sombras. Sinto suas energias, suas dores, suas buscas.
Alguns choram, outros riem, há ainda quem fique em completo silêncio, mas todos estão conectados pela mesma corrente de cura. Lembro-me de que, em momentos como este, minha presença deve ser firme, mas gentil. Pois cada um deles está vulnerável, exposto às profundezas de sua própria alma, e é meu dever zelar por seu bem-estar, tanto físico quanto espiritual junto aos guardiões.
Uma mulher ao meu lado parece estar em profunda agonia, e sinto que ela está enfrentando memórias profundas. Aproximo-me dela, colocando minha mão sobre seu ombro e entoando um canto de proteção. Sinto a energia da medicina trabalhando nela, liberando o que precisa ser liberado. Outro homem, mais adiante, ri suavemente, como se tivesse encontrado uma verdade há muito esquecida. Sorrio, sabendo que a Ayahuasca está lhe mostrando o caminho de volta para si mesmo.
Enquanto a cerimônia avança, sinto a força coletiva do grupo se unir, como se fôssemos uma única entidade, respirando e pulsando em harmonia. O tambor, as flautas, os rezos e o fogo são os fios que tecem essa rede de cura, e eu sou apenas um instrumento nas mãos do Grande Espírito naquele momento.
Ao final, quando o último som do tambor e dos rezos ecoam e o silêncio se instala, sinto uma profunda gratidão. Gratidão pela medicina, pelos espíritos ancestrais, pelos participantes e pela oportunidade de servir.
Cada cerimônia é uma lição, um lembrete de que a cura é um processo contínuo, tanto para eles quanto para mim. E assim, encerramos o ritual com o coração cheio, sabendo que todos nós fomos tocados pela força sagrada da Ayahuasca e pela energia do universo.
A jornada é longa, mas hoje demos mais um passo em direção à luz.
Ahoo! Haux Haux!

Primeiramente agradecer por fazer parte desta família e a forma como William Mesquita descreve o ritual e a responsabilidade de guiar outros nessa jornada sagrada é inspiradora. É fascinante pensar em como cada batida do tambor e cada nota da flauta se entrelaçam, criando um espaço seguro para a transformação pessoal. A maneira como ele observa as diferentes reações dos participantes ressalta a vulnerabilidade e a beleza desse processo. A Ayahuasca realmente nos leva a confrontar nossas sombras e a encontrar a luz dentro de nós.
Que este artigo inspire mais pessoas a explorar essa medicina ancestral e a se conectar com suas próprias jornadas de cura.
Ahoo!"
Esse comentário não só reconhece a profundidade do texto, mas também convida…
Gratidão por tanta sabedoria! É uma honra e alegria fazer parte dessa história.
Haux!