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A Rebeldia e a Resistência dos Filhos de Santo na Umbanda e Candomble

No vasto e sagrado universo das religiões de matriz afro-brasileira, como a Umbanda e o Candomblé, ser um filho de santo (Omo Orixá) é muito mais do que uma simples escolha; é um destino traçado pela ancestralidade, um chamado espiritual que ecoa desde os tempos imemoriais.


No entanto, é comum observar, nos dias de hoje, uma certa rebeldia e resistência por parte de alguns filhos de santo em seguir integralmente a doutrina espiritual, os preceitos e os itens que são fundamentais para a manutenção e o respeito dessas tradições. Essa postura, muitas vezes, reflete um conflito entre o mundo moderno, com suas demandas e distrações, e a profundidade exigida por essas práticas ancestrais.


Como babalorixá, vejo que muitos filhos de santo buscam a benção dos Orixás, a proteção dos guias e a força dos ancestrais, mas nem todos estão dispostos a abraçar a totalidade do caminho que lhes é apresentado. Há quem queira "ser de Umbanda pela metade", como se diz no popular. Essa expressão, carregada de sabedoria, nos alerta para o perigo de uma espiritualidade superficial, que não honra a profundidade e a seriedade que essas tradições exigem. A Umbanda e o Candomblé não são religiões de conveniência; são caminhos de transformação, de compromisso e de entrega. Não dá para ser de Umbanda ou de Candomblé apenas quando é conveniente, apenas nos momentos de dificuldade ou apenas nos festejos. A espiritualidade afro-brasileira exige dedicação, estudo, respeito aos preceitos e, acima de tudo, integridade.


A ancestralidade, que é a base dessas religiões, nos traz caminhos claros e nos direciona a cultos que são profundamente conectados com a natureza, com os Orixás e com os espíritos ancestrais. Esses caminhos não foram abertos por acaso; são frutos de séculos de resistência, de luta e de sabedoria acumulada. Quando um filho de santo escolhe seguir esses caminhos, ele assume uma responsabilidade consigo mesmo, com sua comunidade e com os seres espirituais que o guiam. Por isso, é fundamental que se faça direito. Fazer direito significa respeitar os rituais, seguir os preceitos, honrar os Orixás e os guias, e manter-se firme nos ensinamentos passados pelos mais velhos.


A rebeldia, em muitos casos, surge da falta de entendimento ou da influência de uma sociedade que valoriza o imediatismo e o individualismo. No entanto, a espiritualidade afro-brasileira é coletiva, comunitária e profundamente enraizada na ideia de que somos parte de um todo maior. Resistir aos preceitos e às orientações dos mais velhos é, de certa forma, resistir à própria ancestralidade que nos guia. É como se o filho de santo estivesse lutando contra si mesmo, contra sua própria essência espiritual.


Por fim, é importante lembrar que a Umbanda e o Candomblé são religiões de amor, mas também de disciplina. O amor dos Orixás e dos guias é infinito, mas eles esperam de nós compromisso e seriedade. Como dizem os mais velhos: "Se nossa ancestralidade traz caminhos e nos direciona a cultos de matriz afro-ameríndia, então que façamos direito".


Que possamos, como filhos de santo, instigar nossa humildade e honrar essa herança sagrada, seguindo com integridade e respeito os preceitos que nos foram legados. Afinal, a espiritualidade não é um jogo de escolhas; é um caminho de destino, e cabe a nós percorrê-lo com a devida reverência e dedicação.



Axé!

 
 
 

1 Comment


Motumbá, pai! Excelente reflexão.

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